IRRIGAÇÃO É ESSENCIAL PARA A AGRICULTURA. ESSA TÉCNICA PODE DOBRAR A SAFRA DO BRASIL

O país é favorecido pelo clima e a irrigação possibilita render até três safras por ano. Especialistas debatem esse tema no primeiro encontro do Cosag de 2020

A pauta “irrigação para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro” centralizou os debates da primeira reunião de 2020 do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), marcada por quórum máximo.

Com a palavra inicial, Alysson Paolinelli, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), defendeu a agricultura tropical sustentável e observou que a água é fator essencial: “Temos no Brasil doze meses de sol, luz e calor que dá às plantas condições necessárias para seu desenvolvimento permanente. Precisamos manejar bem esse fator preponderante que é a água. Com a irrigação, podemos pensar em até três safras por ano”. O Brasil tem 6 milhões de hectares irrigados, quase 3 milhões estão no cerrado.

Ainda para Paolinelli, é preciso que os mananciais sejam cuidados, com a manutenção dos rios, sob responsabilidade do produtor, reduzindo assim a burocratização. “Chame o produtor e dê a ele a função de manutenção. Se ele não cumprir, não terá direito ao uso da água”, exemplificou. Ele lembrou, ainda, que a irrigação na primeira safra garante o aumento de produtividade entre 15% e 17%. Na terceira safra, de 30%, e, se houver a terceira safra, em 100%. “Dobramos a safra brasileira só com irrigação”, completou.

Também presente à reunião, Christiane Dias, diretora-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), explicou sobre a atuação da agência. “Temos a competência de garantir a segurança hídrica nacional. Fazemos a gestão e regulação dos recursos hídricos. Mas essa gestão é muito complexa pelo fato de ser descentralizada e participativa”, avaliou. O Brasil tem cerca de 12% das reservas mundiais de água doce do planeta. Mas essas reservas são mal distribuídas e há “dificuldade em dar outorgas é porque temos rios federais e estaduais. Um nasce e deságua dentro do outro”, detalhou Dias, destacando que o uso da irrigação é de 70%.

Segundo Luiz Henrique Bassoi, pesquisador da Embrapa Instrumentação São Carlos, a agricultura demanda muita água em qualquer parte do mundo. “Irrigação é estratégia ou necessidade, de acordo com a região. Dados do IBGE mostram que, para cada real gerado, foram consumidos em média 6 litros de água. A irrigação usa quase 92 litros de água por real; a indústria de transformação, quase 8 litros; e a indústria extrativa, quase 3 litros”, alertou.

Já Cléber Soares, diretor da Embrapa, apresentou o mapeamento das agritechs, startups de tecnologia focadas no agronegócio, no período de julho de 2018 e 2019. “Temos um sistema de inovação agropecuária muito sólido no Brasil, que favorece o surgimento dessas novas startups. Foram mapeadas 1.125 agritechs. Na região Sudeste, mais de 50% estão no Estado de São Paulo. Vinculadas antes da porteira são 196, 400 dentro da porteira, e mais de 500 fora da porteira”, revelou.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, integrou a reunião, e afirmou que o tema da primeira reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), agendada para março, tratará de uma resolução que impõe restrições à reservação de água dos espelhos em área de preservação permanente. “Uma das prioridades será essa pauta para aumentar a capacidade de reservação e simplificar o modelo que permita a agricultura irrigada”, justificou o ministro.

Por fim, Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), encerrou o debate concluindo que “a discussão se mostrou norteadora para o futuro da prática de irrigação na agricultura. É possível usar a água com sabedoria e poupar energia com alta produtividade. ”

A reunião foi comandada por Jacyr Costa, presidente do Cosag da Fiesp, e contou também com a presença de Itamar Borges, deputado estadual e coordenador da Frente Parlamentar do Agronegócio Paulista.


Voltar