EUA: Mercado especula área e produtividade com mais chuvas previstas até fim de junho

O que o mercado ainda espera da nova safra norte-americana? Da área real de plantio aos impactos sobre os preços, são semanas ainda de muitas incertezas e especulação.

Os olhos dos traders e demais participantes do mercado têm se voltado mais de uma vez ao dia às atualizações dos mapas climáticas e, semanalmente, aos boletins que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz sobre a evolução dos trabalhos de campo - que ainda são realizados em função dos atrasos causados pelo clima - e do desenvolvimento das lavouras.

Mais do que isso, os comentários dos produtores norte-americanos também são acompanhados de perto.

Pelas redes sociais, muitos deles relataram, ao longo das últimas semanas, todos os desafios que têm sido enfretados nesta temporada.

. Tratores atolados, campos alagados, replantios, plantios frustrados e uma das maiores áreas que ficará sem ser plantada no país diante de tantos problemas. Inundações e a logística travada, além de muitas estruturas comprometidas também estão na conta.

Assim, o mercado se pergunta agora o real futuro da nova safra. O que se sabe até agora é de que há um atraso severo e considerável que começou no plantio e já pode ser observado também no desenvolvimento das lavouras desde a germinação. Os reflexos disso deverão ser conhecidos nas próximas semanas. A realidade, porém, como explicam especialistas, somente depois de finalizada a colheita.

ÁREA DE PLANTIO

O mercado espera agora pelo novo boletim de área que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz na próximas sexta-feira, 28 de junho. O reporte é típico deste período do ano, porém, ganhou ainda mais peso este ano. Afinal, os produtores estão ainda finalizando suas decisões sobre quanto de sua propriedade destinarão ao programa de seguro do Prevent Plant, quanto do milho irá migrar para a soja e quanto não será plantado.

"Os mercados continuam focados nesse relatório da próxima semana para que tenham uma noção mais concreta do quanto foi realmente plantado", dizem os consultores da Allendale, Inc. Segundo o analista americano Kevin Van Trump, editor do Van Trump Report, "ao menos 4,05 milhões de hectares (10 milhões de acres) ou mais destinados ao Prevent Plant são inevitáveis".

De acordo com o boletim semanal de acompanhamento de safras que o USDA trouxe na última segunda-feira (17), faltariam ainda quase 7,5 milhões de hectares (18,5 milhões de acres) somente de milho ainda a serem plantados. E serão? Essa é a grande dúvida do mercado.

"Se você levar isso um passo adiante, o que isso significa é que chegaremos a 100% plantados. Isso não significa que os agricultores plantaram tudo o que eles esperavam. Mas vamos encarar - os agricultores terão que parar de plantar em algum momento e, nesse ponto, o progresso mostrará 100%", disse Lance Honig, chefe da divisão de colheitas da NASS, uma das agências do USDA, em entrevista esta semana.

Depois do USDA Agricultural Outlook Forum, os primeiros dados oficiais do departamento sobre a safra 2019/20 foram reportados em seu boletim mensal de oferta e demanda de maio. Lá, o USDA trouxe a área plantada e colhida estimadas para soja e milho sugerindo um aumento no milho e uma redução na soja.

Com todos os problemas causados pelas chuvas excessivas - com os acumulados batendo todos os recordes históricos dos EUA - o órgão reduziu drasticamente seus números no boletim seguinte, em 10 de junho, principalmente para o milho. A área plantada passou de 37,56 para 36,34 milhões de hectares. A colhida caiu de 34,56 para 33,35 milhões.

Para a soja, dada a janela de plantio ainda aberta e permanecendo assim até o final deste mês, o USDA manteve seus números inalterados em 34,24 e 33,91 milhões de hectares, respectivamente. Ambos são menores do que os registrados no ano passado.

Como explicou o diretor do Grupo Labhoro, Ginaldo de Sousa, que está em viagem ao Corn Belt esta semana, o mercado do milho já precificou o que precisava quando o assunto é área, o mesmo não pode ser dito para a soja.

"O milho já fez as altas em relação à área, novas altas viriam por excesso ou falta de chuvas no futuro. Mas aquele medo de que teríamos pelo menos 15% da área sem plantar não tivemos, deve ser algo entre 9% e 10%. O medo daqui para frente é em relação ao clima influenciando diretamente na qualidade das lavouras", diz. "Já para a soja não. Podemos chegar até o dia 30 com 100% plantado ou eles podem entrar em julho plantando", completa.

PRODUTIVIDADE

Assim como na área, o USDA também reduziu de forma expressiva suas estimativas para a produtividade do milho nos Estados Unidos. De maio a junho, o número foi de 184,11 a 173,64 sacas por hectare. Para a soja, a projeção foi mantida em 55,48 sacas por hectare e, de acordo com representantes do USDA, tal dado poderia já ser revisado em julho caso as adversidades permaneçam ou se agravem.

O departamento norte-americano ainda não trouxe em seus boletins semanais índices das condições das lavouras da oleaginosa, o que pode começar a acontecer na próxima segunda-feira, 24 de junho. Os números chegam com um atraso de duas semanas do período típico de divulgação. O fato acaba, portanto, limitando as especulações sobre o rendimento da soja, pelo menos por hora, inclusive por a janela de plantio ainda estar em aberto.

Para o milho, os índices desta segunda-feira vieram em 59% dos campos em boas ou excelentes condições. Como explicou o phD em agricultura e agrônomo americano Michael Cordonnier, 10 estados reportaram uma melhora nas condições de suas lavouras e a maior parte deles está mais a Oeste do Corn Belt. Dos que reportaram piora, a maioria está no Leste, onde as chuvas são mais intensas e frequentes neste últimos dias, e onde são facilmente identificados áreas de solos extremamente saturados e de temperatura abaixo da média para o período.

O que se observa agora é como o clima se desenvolve e de que foram irão impactar no rendimento dessas lavouras depois de um plantio tardio, especialmente no milho.

CLIMA

As definições sobre a área estão totalmente conectadas ao clima e às previsões para os próximos dias, principalmente para a soja que ainda tem dias de janela de plantio. Para o milho, foco na produtividade.

Para os próximos 7 dias, o NOAA, o serviço oficial de clima do governo norte-americano, espera por mais chuvas fortes nos estados mais a leste do país. Como vem sendo observado

Tais estados também continuarão a receber acumulados acima da média para o período nos intervalos dos próximos 6 a 10 dias e 8 a 14 dias, ainda de acordo com as previsões do NOAA.

Previsões de 27 de junho a 3 de julho

"Os próximos 5 dias continuam trazendo chuvas intensas para 92% da área sojicultora e milhocultora nos EUA. Se tais precipitações intensas continuarem se confirmando para o mês de julho, teremos sim um problema generalizado no país", explicam os especialistas da ARC Mercosul. "A discussão mais frequente nos bastidores da CBOT tem sido sobre os reais efeitos negativos das intempéries climáticas durante o período de plantio norte-americano", completam.

Além disso, a consultoria lembra que não só as chuvas previstas para os próximos dias são um problema, mas também o excesso de umidade dos últimos dois meses.

"Sem dúvidas uma grande parcela da produção já foi cortada com o excesso de chuvas dos últimos 60 dias. Entretanto, o determinante entre uma “safra péssima” ou uma “safra ruim” será o clima durante julho e agosto", explica a ARC, citando o período de desenvolvimento das plantas. "A verdade se torna única: precisamos de mais tempo para determinar os potenciais prejuízos desta safra 2019".

Na última semana, os campos norte-americanos se mostraram um pouco mais secos, como relatou Michael Cordonnier. Mas não de forma generalizada, com melhores resultados sendo registrados mais a Oeste do Corn Belt, onde, como já foi dito, as chuvas foram intensas, porém menos volumosas e frequentes.

"Os solos estão ainda muito mais úmidos do que o normal e nas próximas semanas teremos que observar se essa questão da umidade começa a se normalizar. Se no curto prazo começarem a secar, isso é um bom sinal. Se começarem a ficar ainda mais úmidos não é uma coisa boa. O quadro começa a entrar nos eixos na medida em que o verão se inicia (nos próximos dias)", diz Cordonnier.

Fonte: Notícias Agrícolas


Voltar